Dieta que imita o jejum pode potencializar o tratamento do câncer, apontam estudos – publicado em 2024
Uma dieta que imita o jejum — conhecida internacionalmente como fasting-mimicking diet — tem se mostrado segura e bem tolerada por pacientes com câncer, segundo pesquisadores italianos.
Essa forma de restrição calórica controlada promove mudanças positivas no metabolismo e na imunidade, podendo reforçar o efeito dos tratamentos contra o câncer.
Pesquisas realizadas com modelos animais mostraram que essa dieta potencializa a ação dos medicamentos antineoplásicos, ajudando o corpo a combater melhor as células tumorais.
O estudo é liderado pelo Dr. Claudio Vernieri, Ph.D., oncologista do Istituto Nazionale dei Tumori di Milano e diretor do programa de reprogramação metabólica de tumores sólidos no Istituto Europeo di Oncologia Molecolare FIRC.
Os resultados sugerem que estratégias nutricionais bem orientadas podem se tornar aliadas importantes no tratamento oncológico, melhorando a resposta do organismo e reduzindo efeitos colaterais.
Do ponto de vista da resposta metabólica, a intervenção reduziu a concentração mediana de glicose plasmática em 18,6%, os níveis séricos de insulina em 50,7% e os níveis séricos do fator de crescimento insulinoide tipo 1 (IGF-1, do inglês Insuline-Like Growth Factor 1) em 30,3%, e essas modificações permaneceram estáveis durante vários ciclos
http://DOI: 10.1016/j.cmet.2024.06.014
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O jejum intermitente tem sido praticado há milênios por povos ao redor de todo o globo, mas só recentemente, estudos têm lançado uma luz sobre o seu papel nas respostas celulares adaptativas que reduzem o dano oxidativo e inflamação, otimizam o metabolismo energético e reforçam a proteção celular.
De acordo com pesquisadores americanos do National Institute of Health e da University of Southern California, em animais inferiores, o jejum crônico estende a longevidade, em parte, através da reprogramação do metabolismo e vias de resistência ao estresse.
Em roedores o jejum intermitente ou periódico protege contra diabetes, câncer, doenças do coração e neurodegenerativas, enquanto nos seres humanos ajuda a reduzir a obesidade, a hipertensão, asma, e artrite reumatóide. Deste modo, o jejum intermitente tem o potencial para retardar o envelhecimento e ajudar a prevenir e tratar doenças.
Obesidade e Diabetes
Uma revisão bibliográfica realizada por pesquisadores da Escola de Medicina da USP, em 2013, fez uma análise de dados disponíveis na literatura sobre o impacto do jejum intermitente, uma modalidade de intervenção nutricional, em diferentes aspectos do metabolismo.
Estudos experimentais recentes têm elucidado a modulação do metabolismo por jejum intermitente.
Testes com animais têm mostrado alterações positivas no metabolismo glicídico (valores menores de glicemia e insulinemia) e lipídico (redução no volume de gordura visceral e aumento nos valores de adiponectina plasmática), além de uma maior resistência ao estresse.
Apesar dos estudos disponíveis apresentarem populações muito reduzidas, observaram-se resultados positivos com esta intervenção também na saúde humana.
Os resultados indicam:
- melhorias no perfil lipídico
 - redução de respostas inflamatórias,
 - redução na liberação de adipocinas inflamatórias
 - alterações na expressão de genes relacionados com a resposta inflamatória e de outros fatores.
 - O jejum aumenta a oxidação lipídica durante o exercício submáximal em atletas treinados. A utilização da gordura aumentada pode estar relacionada à diminuição da massa e gordura corporal.
 
Em indivíduos obesos observou-se uma melhor adesão ao jejum intermitente em relação às intervenções tradicionais (restrição calórica), além da redução no estresse oxidativo desta população.
Dessa maneira, os pesquisadores acreditam que por se tratar de uma intervenção viável e acessível para a maioria dos indivíduos, novos estudos clínicos são necessários para testar a eficácia desta intervenção na prevenção e no controle de doenças metabólicas e cardiovasculares.
“O jejum é uma forma segura e natural de liberar hormônio do crescimento, hormônio essencialmente queimador de gordura”
Câncer
Em outro estudo, publicado neste ano de 2015, pesquisadores da VU University of Amsterdam e da University of Manchester, constataram que a concentração de glicose no sangue pode ser reduzida em 20-40% durante o jejum intermitente.
Calcularam que o fornecimento de glicose às células tumorais anóxicas potencialmente perigosas pode assim, ser significativamente reduzido resultando em morte celular, especificamente destas células.
Células anóxicas são dependentes de degradação anaeróbica da glicose para geração de ATP e são perigosas, pois induzem a angiogênese, despertando o tumor dormente.
Dessa forma, o jejum intermitente pode ajudar a reduzir a incidência de recaída tumoral através da redução do número de células tumorais anóxicas e consequentemente, o “despertar” do tumor.
Saúde cerebral
Pesquisas da Université Montpellier e da University Paris-Est revelaram que o jejum intermitente pode melhorar o humor, o bem-estar e o estado de alerta, além de causar sensação de euforia em alguns casos.
Quando realizado de forma terapêutica e supervisionada, o jejum é seguro e bem tolerado.
Esses efeitos positivos parecem estar ligados a mudanças em neurotransmissores, melhora na qualidade do sono e ao aumento de fatores neurotróficos, substâncias que favorecem a saúde dos neurônios.
Cientistas do National Institute on Aging (EUA) também observaram que o jejum intermitente e a restrição calórica ajudam a proteger o sistema nervoso contra o envelhecimento, reduzindo o risco de doenças como Alzheimer e Parkinson.
“Muitas observações clínicas relacionam um efeito no início do jejum sobre os sintomas depressivos, com uma melhora no humor, estado de alerta e uma sensação de tranquilidade relatada pelos pacientes”
Existem várias vias interativas e mecanismos moleculares pelos quais a RESTRIÇÃO CALÓRICA e o JEJUM INTERMITENTE beneficiam os neurônios, incluindo as que envolvem:
- sinalização semelhante à da insulina,
 - fatores de transcrição FoxO
 - sirtuínas
 - receptores ativados pelo proliferador de peroxissomo (PPAR).
 
Figura 2. Vias metabólicas alteradas pelo jejum intermitente
Efeitos do jejum intermitente associado ao exercício aerébico na composição corporal e metabolismo do colesterol
O Protocolo de jejum intermitente (IFP), foi sugerido como uma estratégia para mudar o metabolismo corporal e melhorar a saúde.
Os efeitos do jejum intermitente parecem ser semelhantes ao exercício aeróbico, tendo uma adaptação bifásica de acordo com a intensidade e a frequência.
No entanto, os efeitos da combinação de ambas as intervenções ainda são desconhecidos.
Portanto, o objetivo de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e publicado em agosto de 2017 na Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism, foi avaliar os efeitos do jejum intermitentecom e sem exercícios de resistência, na composição corporal, comportamento alimentar e metabolismo lipídico.
“O Protocolo de jejum intermitente combinado com o treinamento de resistência é um método eficiente para diminuir a massa corporal e alterar o metabolismo da gordura, sem causar perdas no teor de proteínas”
Efeitos metabólicos do jejum intermitente.
Jejum intermitente: estudos mostram benefícios para o metabolismo e a saúde geral
Pesquisadores da Universidade da Califórnia publicaram, no Annual Review of Nutrition, uma ampla revisão sobre o jejum intermitente e seus efeitos na saúde. O objetivo foi entender como diferentes formas de jejum influenciam o metabolismo, o peso corporal e o bem-estar geral.
De acordo com o estudo, os regimes de jejum intermitente — incluindo o jejum com restrição de tempo, em que a pessoa se alimenta apenas dentro de uma janela específica do dia — podem ajudar na perda de peso e melhorar a saúde metabólica, reduzindo o risco de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e obesidade.
Outro ponto importante é o impacto positivo do intervalo maior entre a última refeição do dia e o café da manhã seguinte.
Evitar comer à noite e permitir um período prolongado de jejum noturno pode trazer benefícios duradouros, como melhor controle da glicose, redução da inflamação e melhora na qualidade do sono.
Esses efeitos parecem ocorrer porque o jejum atua sobre
- relógio biológico (ritmo circadiano),
 - flora intestinal (microbiota)
 - hábitos de vida, como o sono e a rotina alimentar.
 
Os cientistas acreditam que o jejum intermitente pode se tornar uma estratégia simples, segura e não farmacológica para melhorar a saúde da população e prevenir doenças metabólicas de forma natural.
“Reduzir a alimentação noturna e prolongar o jejum durante a noite pode gerar melhorias sustentadas na saúde humana”, concluem os pesquisadores.
Uma dieta que mimetiza o jejum promove a regeneração e reduz os sintomas de autoimunidade e esclerose múltipla
Pesquisas recentes mostraram que ciclos curtos de dieta que imita o jejum (FMD – Fasting Mimicking Diet), feitos por apenas 3 dias, podem trazer benefícios importantes para o sistema nervoso, especialmente em doenças autoimunes como a esclerose múltipla.
Em estudos com modelos animais, essa dieta reduziu a inflamação no sistema nervoso e melhorou os sintomas neurológicos, revertendo completamente os sinais da doença em até 20% dos casos.
Os pesquisadores observaram que o jejum aumentou os níveis de cortisol (um hormônio com efeito anti-inflamatório natural), estimulou a produção de células T regulatórias — que equilibram o sistema imunológico — e diminuiu células inflamatórias, substâncias envolvidas nos ataques autoimunes.
Além disso, o jejum favoreceu a regeneração dos nervos e a reconstrução da bainha de mielina, estrutura que protege os neurônios e costuma ser danificada na esclerose múltipla.
Dados iniciais também sugerem que tanto o jejum intermitente quanto a dieta cetogênica são seguros, viáveis e promissores como estratégias complementares no tratamento da esclerose múltipla recorrente-remitente, quando acompanhados por equipe médica especializada
O jejum neste estudo:
- reduziu as células s pró-inflamatórias e aumenta os níveis de CORTISOL
 - suprimiu a autoimunidade induzindo a apoptose de linfócitos ( morte de células de defesa que contribuem para a doença)
 - promoveu a regeneração do oligodendrócito ( parte dos neurônio) em vários modelos de esclerose múltipla
 - é um tratamento seguro, viável e potencialmente eficaz para pacientes com esclerose múltipla
 
JEJUM DE 14 HORAS POR 12 SEMANAS POTENCIALIZOU REDUÇÃO DE PESO EM PACIENTES COM SÍNDROME METABÓLICA
Um recém estudo publicado na Cell Metabolism demostrou que aplicação do jejum de 14h num grupo de pacientes com síndrome metabólica por 12 semanas levou a redução do peso, melhora da glicose, melhora da pressão arterial, melhora do colesterol, redução da gordura abdominal, mesmo sem uma intervenção rigorosa de atividade física ou mudanças dos hábitos alimentares. .
Os autores concluíram que o jejum pode ser uma estratégia para a melhora da síndrome metabólica.
Há anos cada vez mais estudos têm demostrado que o jejum pode ser um axilar na saúde, principalmente em conjunto com hábitos saudáveis. .
DESTAQUES
- 14 horas de jejum na síndrome metabólica (SM) promove perda de peso
 - 14 horas de jejum a Sindrome Metabólica reduz circunferência da cintura, porcentagem de gordura corporal e gordura visceral, reduz a pressão arterial, lipídios aterogênicos e hemoglobina glicada
 - Os benefícios do JEJUM de 14 horas são “complementos” para estatinas e medicamentos anti-hipertensivos
 
Dieta que imita o jejum pode potencializar o tratamento do câncer, apontam estudos – publicado em 2024
Uma dieta que imita o jejum — conhecida internacionalmente como fasting-mimicking diet — tem se mostrado segura e bem tolerada por pacientes com câncer, segundo pesquisadores italianos.
Essa forma de restrição calórica controlada promove mudanças positivas no metabolismo e na imunidade, podendo reforçar o efeito dos tratamentos contra o câncer.
Pesquisas realizadas com modelos animais mostraram que essa dieta potencializa a ação dos medicamentos antineoplásicos, ajudando o corpo a combater melhor as células tumorais.
O estudo é liderado pelo Dr. Claudio Vernieri, Ph.D., oncologista do Istituto Nazionale dei Tumori di Milano e diretor do programa de reprogramação metabólica de tumores sólidos no Istituto Europeo di Oncologia Molecolare FIRC.
Os resultados sugerem que estratégias nutricionais bem orientadas podem se tornar aliadas importantes no tratamento oncológico, melhorando a resposta do organismo e reduzindo efeitos colaterais.
Do ponto de vista da resposta metabólica, a intervenção reduziu a concentração mediana de glicose plasmática em 18,6%, os níveis séricos de insulina em 50,7% e os níveis séricos do fator de crescimento insulinoide tipo 1 (IGF-1, do inglês Insuline-Like Growth Factor 1) em 30,3%, e essas modificações permaneceram estáveis durante vários ciclos
http://DOI: 10.1016/j.cmet.2024.06.014
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VEJA O VÍDEO COMIGO FALANDO SOBRE JEJUM INTERMITENTE:
								




31 respostas
prezado dr
desculpe a minha ignorancia mas o que seria jejum intermitente???
um ab e obrigada pela resposta
Existem várias formas de se fazer , mas em geral são várias horas de jejum com compensação nas horas seguintes
Bom dia, gosto muito dos temas que o dr. aborda em seu blog, obrigada por compartilhar seu conhecimento! Gostaria de saber se qualquer pessoa pode praticar o jejum intermitente? e qual a melhor forma (esquema) para iniciar ?
Em geral pessoas com adequada massa muscular e que estão com estão com níveis de hormônios anabólicos normais
Boa tarde Dr. Roberto, tenho diabetes d tipo 2, procuro seguir dieta nutricional, faço caminhadas, tome medicações, mas minha glicose está sempre alta, além da pressão extremamente alta, estou pensando se poderia aplicar este jejum intermitente, só que no meu caso , não comer nas horas habituais, meu corpo desfalece, é difícil para mim até fazer os exames em jejum. Meu problema maior é a minha visão sempre turva por conta disso. Os profissionais que me tratam nunca me falaram a respeito, como devo proceder! Obrigada, um abraço!
Desculpe, dúvidas de caráter pessoal não poderão ser respondidas aqui.
Como é feito esse jejum intermitente? Sou Atleta amador, posso fazer? Desde ja, grato.
bom dia dr,
gostaria de saber se o JI é aconselhado pra quem tem fibromialgia. Eu tenho um certo estresse crônico, e cansaço crônico. Um dia estou super bem, no outro parece que passou um caminhão em cima de mim, e isso me faz crer que seja sintomas da fibromialgia mesmo.
Prático JI há uns meses e gosto muito, mas não sei se é bom pra mim!
Obrigada! Amei seu blog passarei sempre por aqui.
JI diminui insulina e pode elevar o cortisol, hormônio anti inflamatório e que pode ajudar no controle de dores.
Como o jejum intermitente favorece a pessoa que tem artrite reumatoide? Obrigada
Insulina ativa acido araquidôquinico que faz parte da cascada inflamatória e jejum ajuda a sensibilizá – la. Não sei que até que ponto isto pode ser relevante na AR mas pode ser uma boa tentativa
Boa tarde, Dr.
Gostaria de saber se pacientes bariátricos podem fazer o jejum intermitente.
Se há prejuízos nutricionais…consequências..etc.
Obrigada
Não teria porque não poder, teria apenas que compensar o que não comeu, assim como todos, nas horas sem jejum.
Você não acha que esse jejum irá reduzir também massa magra? Já que antes de ser utilizados os depósitos de gordura para formação de atp, são utilizados as proteínas musculares que são de mais fácil mobilização. É um emagrecimento inviável.
Pode ocorrer mas depende de outros fatores como tipo fisico, nivel de insulina , nivel de outros hormonios anabolicos e alimentaçao ao findar o jejum
Doutor, boa tarde.
Haveria alguma contra indicação para pessoas que possuem refluxo?
Não teria porquê.
Dr. Roberto, boa tarde. Gostaria de saber quais os nutrientes eu deva ingerir após um jejum de 16 horas. Das 6 dá tarde às 10 da manhã do dia seguinte. Eu já fiz alguns dias mas vacilei e eu pretendo voltar pois quero frequentar a academia 3 vezes na semana. Desde já Dr. Roberto, muito obrigado pela atenção.
Isto é individualizado e pode variar conforme objetivos e o que se come ao longo das 24H
Bom dia Dr Roberto Marcus de Santa Catarina
Tenho 51 anos e a 6 meses estou tendo crises de hipertensão, faço caminhadas leves 18-11,no pico tomando losartana 50 mg duas x ao dia, esta dieta neste caso pode ser eficiente para me ajudar? meus exames estao normais apenas colesterol alto.Obrigado Marcus
Não é uma dieta e sim uma prática aliada a um estilo de vida saudável onde buscamos comer alimentos naturais e frescos nas horas que não esta de jejum. Pode ajudar no seu caso sim.
Parabéns Dr. Roberto Franco! Este artigo esta esclarecedor sobre atuação do metabolismo na pratica do jejum intermitente.
Obrigado
Bom dia , estou na menopausa e comecei agora a tomar DHEA 50 ,mg .e estou fazendo o JI . Será que devo parar ?
Não entendi a relaçao. Tem um bom nivel de DHEA pode ate ajudar a proteger a massa magra no jejum
Sem duvida, assim como de testosterona já que são hormônios anabólicos.
Perfeitas os seus artigos e bases científicas.
Gratidão.
agradeço
Parabéns pelo ótimo artigo bem relacionado ao tema que estou passando no momento, site super profissional!
Obrigado