Com o envelhecimento há um incremento na prevalência de doenças cardiovasculares
Paralelamente, ocorre redução progressiva na concentração dos hormônios sexuais masculinos, sendo que nas faixas etárias mais avançadas a testosterona é reduzida em, aproximadamente, 15 a 20% dos indivíduos.
Os receptores de testosterona distribuem-se amplamente nos tecidos vasculares, como
- artéria aorta
- vasculatura periférica
- células atriais e ventriculares .
Dessa forma, é possível supor que os hormônios sexuais no homem exerçam influência no desenvolvimento das doenças cardiovasculares..
A testosterona é o principal hormônio sexual masculino, produzida nas células de Leydig, a partir do colesterol.
Além de manter características sexuais e massa muscular, ela atua diretamente no coração, vasos sanguíneos e metabolismo.
Testosterona e o sistema cardiovascular
Função cardíaca
Estudos experimentais demonstram que a testosterona exerce um efeito direto sobre o músculo cardíaco, aumentando a força de contração e a eficiência do bombeamento de sangue.
A deficiência hormonal está associada à redução da fração de ejeção, do débito cardíaco e até à caquexia cardíaca em casos graves de insuficiência.
Reposições adequadas tendem a restaurar o desempenho cardíaco e melhorar a qualidade de vida em pacientes com baixa testosterona e insuficiência cardíaca.
Função vascular
A testosterona atua sobre o endotélio (camada interna dos vasos), estimulando a vasodilatação e o fluxo sanguíneo coronariano.
Estudos clínicos mostraram que pacientes com doença coronariana e níveis baixos de testosterona apresentaram redução da isquemia após terapia com testosterona — tanto endovenosa quanto transdérmica.
Esses achados indicam um possível efeito protetor vascular quando o hormônio é mantido em níveis fisiológicos.
Efeitos na coagulação (hemostasia)
A testosterona aumenta a atividade fibrinolítica — mecanismo natural de dissolução de coágulos — e melhora o equilíbrio entre formação e degradação de trombos.
No entanto, o abuso de anabolizantes em doses excessivvas pode inverter esse efeito, favorecendo a hipercoagulação e eventos trombóticos por aumento da viscosidade sanguínea
Reposição de testosterona: indicações e vias de uso
Indicações principais:
A terapia de reposição é indicada em casos de hipogonadismo clínico e laboratorialmente comprovado, com sintomas como:
-
Cansaço persistente
-
Redução da libido e disfunção erétil
-
Perda de massa muscular e força
-
Alterações de humor e sono
Além disso, há evidências de benefícios na saúde óssea, composição corporal e cognição.
Formas de administração
1. Injetável (Cipionato de testosterona ( CIFARMA ou DEPOSTERON) , DURATESTON, Undecilato de testosterona 250mg/ml – 4ml )
-
Liberação prolongada
-
Deposteron ( cipionato de testosterona) : Ação de 10 a 14 dias
-
Duratesaton: de 14 a 21 dias
- Undecilato de testsoterona ( Nebido, Hormus, Atesto) – 45 a 60 dias
-
Boa absorção e boa resposta
- Durateston e Deposteron farão picos de absorçao durantre a liberaçao assim,proximo a aplicaçao, o nível de testosterona no sangue pode estar bem mais alto que no décimo dia por exemplo – como visto no gráfico acima
2. Oral (Undecanoato de Testosterona – Androxon®)
-
Não hepatotóxico
-
Menor estabilidade de níveis hormonais
3. Transdérmica – Manipulada com dose individualizada , Androgel 50mg / sachê ( 30sachês) , Androgel pump, 16,2mg/pump
-
Reproduz níveis fisiológicos diurnos
-
Maior conforto e absorção constante
-
Maior custo e risco de transferência cutânea
Riscos e efeitos adversos
O uso inadequado ou em doses suprafisiológicas pode causar:
-
Acne, oleosidade, ginecomastia e retenção hídrica ( princilmente se não evitar convesão de testosterona em estradiol)
-
Agressividade e alterações de humor ( pouco comum)
-
Alopecia e engrossamento da voz (irreversível) – em que tem tendência
Contraindicações absolutas:
-
Câncer de próstata ou de mama
-
Apneia do sono não tratada
-
Insuficiência cardíaca descompensada
Monitoramento médico
Durante o tratamento, é essencial acompanhamento com:
-
Testosterona total e livre/ Estradiol/ DHT
-
PSA e toque retal
-
Hemograma, função hepática, renal , coagulação e perfil lipídico ( colesterol)
-
Pressão arterial e composição corporal
Esses parâmetros garantem segurança e eficácia da reposição, prevenindo riscos cardiovasculares e metabólicos.
______________________________________________________________________
Quais os riscos da TRT para a saúde cardíaca?
Evidências de Segurança
-
Múltiplos estudos não mostraram aumento de risco: Vários estudos demonstraram que a TRT não aumenta eventos cardiovasculares ou pode até reduzi-los
-
Benefícios em pacientes com insuficiência cardíaca: A TRT mostrou-se segura em pacientes com insuficiência cardíaca classes II-III, melhorando alguns parâmetros cardíacos
-
Meta-análises recentes: Análises sistemáticas confirmam que a TRT é segura quando adequadamente prescrita
A evidência atual sugere que os riscos cardiovasculares da TRT podem estar relacionados à via de administração, dosagem e características do paciente, sendo necessária avaliação individualizada.
Riscos Potenciais Identificados
-
Risco aumentado de eventos cardiovasculares maiores: Um estudo canadense mostrou aumento de 27% no risco de eventos cardiovasculares adversos maiores (infarto, revascularização, AVC, insuficiência cardíaca)
-
Maior risco nos primeiros anos: O risco foi mais elevado nos primeiros 6 meses a 2 anos de uso contínuo (35% de aumento) e em homens de 45-59 anos (44% de aumento)
-
Variação por via de administração: A TRT oral apresentou risco cardiovascular significativo (RR = 2,20), enquanto as vias intramuscular e transdérmica não mostraram risco significativo
-
Apneia obstrutiva do sono: Risco aumentado de 16,5% em 2 anos versus 12,7% no grupo controle
_________________________________________________________________________
Antes de iniciar a TRT: o que deve ser avaliado
1. Risco cardiovascular geral
O ideal é verificar se o paciente tem algum fator que aumente o risco de problemas cardíacos, como:
-
histórico de infarto, AVC ou insuficiência cardíaca;
-
tabagismo;
-
diabetes;
-
hipertensão;
-
colesterol alto;
-
idade avançada.
Homens com disfunção erétil também merecem uma investigação mais cuidadosa, já que muitas vezes ela é um marcador precoce de doença cardiovascular. Nesses casos, exames como perfil lipídico, glicemia e, para quem tem maior risco ou sintomas, teste ergométrico ou tomografia de coronárias podem ser indicados.
2. Exames iniciais obrigatórios
Antes de começar a testosterona, devem ser avaliados:
-
hemograma (com atenção ao hematócrito);
-
colesterol e triglicerídeos;
-
glicemia e hemoglobina glicada;
-
pressão arterial, IMC;
-
PSA e toque retal conforme idade e histórico familiar;
-
triagem de apneia do sono.
Registrar o hematócrito antes da TRT é importante para comparação futura.
3. Quando evitar iniciar
A TRT deve ser adiada em casos como:
-
infarto ou AVC nos últimos 6 meses;
-
insuficiência cardíaca grave e descompensada.
Em situações mais complexas, a decisão deve ser discutida individualmente, já que a literatura científica ainda tem resultados mistos.
Monitorização durante a TRT: o que precisa ser acompanhado
1. Hematócrito (Hct)
-
Repetir em 3 meses, depois em 6 meses e, se estável, a cada 6–12 meses.
-
Um Hct muito elevado aumenta o risco de eventos como infarto e AVC.
-
Se atingir 54% ou mais, deve-se reduzir dose, trocar a via de administração ou pausar a TRT.
2. Sintomas e sinais cardiovascularesO paciente deve ser reavaliado quanto à capacidade de esforço, dor no peito e falta de ar.
Embora muitos estudos mostrem boa segurança cardiovascular, o acompanhamento contínuo é essencial.
3. Apneia obstrutiva do sono
A TRT pode aumentar a chance de desenvolver ou agravar a apneia.
-
Em dois anos, o risco observado foi de 16,5% vs 12,7% em quem não usa TRT.
-
Se houver ronco intenso, pausas respiratórias ou sonolência exagerada, deve-se investigar com polissonografia.
4. Metabolismo, colesterol e pressão arterial
Todos os demais fatores de risco cardiovascular devem ser controlados conforme as diretrizes de prevenção : tratamento de hipertensão, diabetes, dislipidemia e otimização do estilo de vida.
___________________________________________________________________
Conclusão
A testosterona exerce influência direta e positiva sobre o coração, vasos e metabolismo, desde que mantida dentro dos níveis fisiológicos.
A reposição, quando indicada corretamente e acompanhada de perto por um médico, pode melhorar o perfil lipídico, o desempenho cardíaco e o bem-estar geral.
“Por outro lado, o uso abusivo ou sem acompanhamento médico pode causar o efeito oposto, aumentando o risco de trombose, arritmias e eventos cardiovasculares”
_______________________________________________________
Referências :
-
MORALES, A.; HEATON, J. P. W.; CARSON, C. C. Andropause: a misnomer for a true clinical entity. J Urology, 163: 705–712, 2000. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10647662/ -
RUIZEVELD WINTER, J. A. et al. Androgen receptor expression in human tissues: an immunohistochemical study. J Histochem Cytochem, 39: 927–936, 1991. http://10.1177/39.7.1865110
-
KNOBIL, E.; NEILL, J. The Physiology of Reproduction. New York: Raven Press, 1988.
-
VERMEULEN, A. Androgens and male senescence. In: NEISCHLAG, E.; BEHRE, H. M. (eds.). Testosterone: Action, Deficiency, Substitution. Berlin: Springer-Verlag, 1990. p. 261–276. https://doi.org/10.1210/jcem-73-2-221
-
GRAY, A. et al. Age, disease, and changing sex hormone levels in middle-aged men. J Clin Endocrinol Metab, 73: 1016–1025, 1991.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1939537/ -
SCHAIBLE, T. F. et al. Effects of gonadectomy on cardiac function in rats. Circ Res, 54: 38–49, 1984.
http://10.1161/01.res.54.1.38 -
, C. S.; KELLY, R. P.; COLLINS, P. Cardiovascular effects of gender and menopause. Cardiovasc Res, 46: 28–49, 2000. http://10.1016/s0008-6363(00)00005-5
-
TRIFUNOVIC, B. et al. Androgenic steroid decreases ventricular compliance in rats. Am J Physiol, 268: H1096–H1105, 1995. http://10.1152/ajpheart.1995.268.3.H1096
-
ANKER, S. D. et al. Hormonal changes in chronic heart failure. Circulation, 96: 526–534, 1997. http://10.1161/01.cir.96.2.526
-
NOIRHOMME, P. et al. Mechanical circulatory support and neuroendocrine activation. Eur J Cardiothorac Surg, 16: 63–67, 1999.
-
WEBB, C. M. et al. Acute testosterone and myocardial ischemia. Am J Cardiol, 83: 437–439, 1999.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10072240/ -
ONG, P. G. L. et al. Testosterone enhances brachial artery reactivity. Am J Cardiol, 85: 14–17, 2000.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10653495/ -
ROSANO, G. M. C. et al. Acute anti-ischemic effect of testosterone. Circulation, 99: 1666–1670, 1999.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10190867/ -
ENGLISH, K. M. et al. Transdermal testosterone improves angina. Circulation, 102: 1906–1911, 2000.
http://10.1161/01.cir.102.16.1906 -
ALEXANDERSEN, P.; HAARBO, J.; CHRISTIANSEN, C. Androgens and coronary disease. Atherosclerosis, 125: 1–13, 1996. http://DOI: 10.1016/0021-9150(96)05864-9
-
NORDOY, A.; AAKVAAG, A.; THELE, D. Sex hormones and HDL. Atherosclerosis, 34: 431–436, 1979. http://10.1161/01.cir.102.16.1906
-
GUTAI, J. et al. Testosterone, HDL and lipoproteins. Am J Cardiol, 48: 897–902, 1981. http://DOI: 10.1016/0021-9150(79)90067-4
-
DAL, W. S. et al. HDL cholesterol and sex hormones. Am J Cardiol, 53: 1259–1263, 1984. http://DOI: 10.1016/0002-9149(84)90075-4
-
BAGATELL, C. J.; BREMER, W. J. Aging, testosterone, lipids. J Clin Endocrinol Metab, 83: 3340–3341, 1998.
http://DOI: 10.2337/db12-0440 -
ZGLICZYNSKI, S. et al. Testosterone therapy and lipids. Atherosclerosis, 121: 35–43, 1996.
-
KAILLA, A. et al. DHEA protects LDL from oxidation. Atherosclerosis, 136: 99–107, 1998.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9544 -
WINKLER, U. H. Effects of androgens on haemostasis. Maturitas, 24: 147–155, 1996.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/8735359/ -
YANG, X. C. et al. Hemostatic risk factors and sex hormones. Arterioscler Thromb, 13: 467–471, 1993.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/8445871/ -
VILLEMUR, B. et al. Leg ulcer in Klinefelter syndrome. J Mal Vasc, 20(3): 215–218, 1995.
-
PASQUALI, R. et al. Obesity, fat distribution and sex hormones. Metabolism, 40: 101–104, 1991.
-
SIMON, D. et al. Testosterone and insulin in healthy men. Diabetologia, 35: 173–177, 1992.
-
PHILLIPS, G. Sex hormones and glucose–insulin–lipid defects in obese men. Metabolism, 42: 116–120, 1993.
-
HAFFNER, S. M. et al. Low testosterone and higher insulin/glucose. Metabolism, 43: 599–603, 1994.
-
HOLMÄNG, A.; BJÖRNTORP, P. Testosterone and insulin sensitivity in rats. Acta Physiol Scand, 146: 505–510, 1992.
-
UNIMED PHARMACEUTICALS. AndroGel – Proposed Labeling Text. FDA, 2001.
-
MAZER, N. A. Transdermal testosterone applications. J Controlled Release, 65: 303–315, 2000.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10699283/ -
FOSS, G. L. Clinical administration of androgens. Lancet, 1: 502–504, 1939.
-
TENOVER, J. S. Androgen administration to aging men. Endocrinol Metab Clin North Am, 23: 877–892, 1994.
-
BARDIN, W.; SWERDLOFF, R. S.; SANTEN, R. J. Androgens: risks and benefits. J Clin Endocrinol Metab, 73: 4–7, 1991.
-
BAGATELL, C. J.; BREMMER, W. J. Drug therapy: androgens in men — uses and abuses. N Engl J Med, 334: 707–714, 1996.
-
BHASIN, S. Androgen treatment of hypogonadal men. J Clin Endocrinol Metab, 74: 1221–1225, 1992.



