Tudo que você precisa saber sobre Ozempic, Wegovy e Mounjro

1. Semaglutida (Ozempic, Wegovy, Rybelsus)

  • Mecanismo de ação: A semaglutida é um análogo do hormônio GLP-1 (glucagon-like peptide-1), produzido no intestino. Ela atua:
    • Aumentando a saciedade e reduzindo o apetite ao sinalizar ao cérebro a sensação de “estar cheio”.
    • Retardando o esvaziamento gástrico, o que prolonga a sensação de plenitude.
    • Melhorando a secreção de insulina e controlando a glicemia, especialmente em pacientes com diabetes tipo 2.
  • Indicações:
    • Ozempic (1 mg, injetável semanal): Aprovado pela Anvisa em 2018 para diabetes tipo 2, mas usado “off-label” para perda de peso antes da aprovação do Wegovy.
    • Wegovy (2,4 mg, injetável semanal): Aprovado pela Anvisa em janeiro de 2023 para tratamento de obesidade e sobrepeso (IMC ≥ 30 kg/m² ou ≥ 27 kg/m² com comorbidades como hipertensão, diabetes ou apneia do sono). Lançado no Brasil em agosto de 2024.
    • Rybelsus (3, 7 ou 14 mg, comprimido oral diário): Aprovado para diabetes tipo 2, com uso menos comum para obesidade devido à menor potência em comparação com as versões injetáveis.
  • Eficácia:
    • Estudos clínicos (programa STEP) mostram que o Wegovy promove uma perda média de 17% do peso corporal em 68 semanas, com 1 em cada 3 pacientes perdendo 20% ou mais. Em comparação, o grupo placebo perdeu apenas 2,4%.
    • No diabetes, reduz significativamente a hemoglobina glicada, melhorando o controle glicêmico.
  • Regulamentação pela Anvisa:
    • A Anvisa aprovou o Wegovy como o primeiro injetável semanal para obesidade em 2023, com base em estudos com mais de 4.500 participantes.
    • Em abril de 2025, a Anvisa determinou que a venda de medicamentos como Ozempic, Wegovy e Saxenda exige retenção de receita médica nas farmácias para controlar o uso indiscriminado, devido à alta demanda para fins estéticos.
    • A manipulação de semaglutida sintética em farmácias magistrais é proibida, mas a versão biotecnológica (usada nos medicamentos originais) pode ser manipulada, desde que siga normas rigorosas (RDC 204/2006 e RDC 67/2007).
  • Disponibilidade e custo:
    • Wegovy está disponível em farmácias brasileiras desde 2024, com preços estimados entre R$ 700 e R$ 1.000 por mês, dependendo da dose (0,25 mg a 2,4 mg). O preço é regulado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
    • Ozempic é amplamente disponível, mas não é coberto pelo SUS para obesidade, apenas para diabetes em casos específicos.
    • A semaglutida não está incluída no SUS para obesidade, e o alto custo limita o acesso. Há discussões sobre possível incorporação no SUS a partir de 2026, especialmente após a queda de patente da liraglutida, que pode abrir precedente.
  • Efeitos colaterais:
    • Comuns: náuseas, diarreia, vômitos, constipação e dores abdominais, geralmente leves e transitórios.
    • Raros: pancreatite, problemas na vesícula biliar, risco aumentado de câncer medular de tireoide (contraindicado em pacientes com histórico familiar).
  • Considerações:
    • Não deve ser usado por grávidas, lactantes ou pessoas com histórico de câncer medular de tireoide. Deve ser descontinuado dois meses antes de uma gravidez planejada.
    • O uso para fins estéticos (sem indicação médica) é desaconselhado pelas sociedades médicas, devido a riscos e à priorização de pacientes com condições crônicas.
    • Posts no X destacam que a semaglutida aumenta a atividade metabólica no tecido adiposo visceral, mas alertam que a perda de peso depende de uso contínuo e que, sem exercícios resistidos, pode haver perda de massa muscular.

2. Tirzepatida (Mounjaro, Zepbound)

  • Mecanismo de ação: A tirzepatida é um agonista duplo dos receptores GLP-1 e GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose), o que a torna mais potente que a semaglutida. Ela:
    • Estimula a saciedade e reduz o apetite, agindo no hipotálamo.
    • Retarda o esvaziamento gástrico.
    • Aumenta a produção de insulina e melhora o controle glicêmico, sendo eficaz para diabetes e obesidade.
  • Indicações:
    • Mounjaro: Aprovado pela Anvisa em setembro de 2023 para diabetes tipo 2, com uso injetável semanal (doses de 2,5 mg a 15 mg).
    • Zepbound: Versão para obesidade, aprovada nos EUA, mas ainda não liberada pela Anvisa para essa indicação no Brasil. A previsão é que seja aprovada e comercializada no Brasil até o segundo trimestre de 2025.
  • Eficácia:
    • No diabetes, mais da metade dos pacientes atinge níveis normais de hemoglobina glicada.
    • Para perda de peso, estudos (como SURMOUNT-1 e SURMOUNT-5) mostram redução média de 20,2% a 22,9% do peso corporal em 72 semanas, superando a semaglutida (13,7% a 15,8%). Em alguns casos, a perda chegou a 30%, comparável à cirurgia bariátrica.
    • Um estudo de julho de 2024 (JAMA) com 32.029 pacientes mostrou que a tirzepatida levou a uma perda de peso 6,9% superior à da semaglutida.
  • Regulamentação pela Anvisa:
    • A tirzepatida (Mounjaro) foi aprovada para diabetes em 2023, mas a indicação para obesidade (Zepbound) está sob análise.
    • A manipulação magistral da tirzepatida é permitida em farmácias, desde que siga as boas práticas (RDC 67/2007), ao contrário da semaglutida sintética. No entanto, a Eli Lilly desaconselha a manipulação, priorizando as apresentações originais.
    • A Anvisa exige receita retida para a venda, reforçando o controle.
  • Disponibilidade e custo:
    • Mounjaro será lançado no Brasil em 7 de junho de 2025, inicialmente para diabetes. O preço ainda não foi definido pela CMED, mas a importação atual custa entre R$ 40.000 e R$ 55.000 por seis meses (24 canetas).
    • Zepbound não está disponível no Brasil, mas a aprovação para obesidade é esperada em 2025.
    • Não há previsão de inclusão no SUS, e o acesso via planos de saúde depende de avaliações futuras pela ANS.
  • Efeitos colaterais:
    • Predominantemente gastrointestinais (náuseas, diarreia, vômitos), leves e transitórios.
    • Riscos semelhantes aos da semaglutida, incluindo pancreatite e problemas na vesícula, mas com perfil de segurança considerado bom.
  • Considerações:
    • A tirzepatida é vista como a molécula mais eficaz para perda de peso atualmente, devido ao duplo mecanismo de ação.
    • Sociedades médicas (SBEM, SBD, Abeso) alertam contra versões manipuladas ou alternativas, devido a riscos de contaminação, doses inadequadas e falta de esterilidade.
    • A alta demanda global tem limitado a disponibilidade, e o acesso no Brasil pode ser restrito pelo custo elevado.

3. MariTide (Maridebart Cafraglutide, AMG 133)

  • Mecanismo de ação: MariTide, desenvolvido pela Amgen, é um anticorpo peptídico que atua como agonista prolongado dos receptores GLP-1, com uma abordagem distinta dos injetáveis semanais como Wegovy e Zepbound. Sua formulação permite dosagem mensal ou menos frequente, aumentando a conveniência.
  • Indicações:
    • Ainda em fase de estudos (fase 2 concluída), com foco no tratamento de obesidade e sobrepeso. Não está aprovado pela Anvisa ou FDA.
  • Eficácia:
    • A fase 2 de testes, anunciada em novembro de 2024, mostrou até 20% de perda média de peso em 52 semanas, sem platô (ou seja, a perda de peso continuou progredindo).
    • Resultados preliminares sugerem eficácia comparável à tirzepatida, mas com a vantagem de aplicações menos frequentes.
  • Regulamentação pela Anvisa:
    • Não há aprovação no Brasil ou em outros países, pois o medicamento está em fase de desenvolvimento. A Amgen não divulgou prazos para submissão à Anvisa.
  • Disponibilidade e custo:
    • Não está disponível comercialmente. A comercialização depende de aprovação regulatória, esperada para após 2025, caso os estudos de fase 3 sejam bem-sucedidos.
    • Não há estimativas de custo, mas o perfil inovador sugere preços elevados inicialmente.
  • Efeitos colaterais:
    • Dados limitados, mas os estudos de fase 2 indicam segurança aceitável, com efeitos colaterais provavelmente semelhantes aos de outros agonistas de GLP-1 (náuseas, problemas gastrointestinais).
  • Considerações:
    • A dosagem mensal é uma inovação significativa, podendo melhorar a adesão ao tratamento.
    • Ainda é cedo para comparar MariTide diretamente com semaglutida ou tirzepatida, mas os resultados iniciais são promissores.
    • A falta de aprovação e os custos futuros podem limitar o acesso no Brasil, especialmente no SUS.

4. Outros Medicamentos e Tendências

  • Liraglutida (Saxenda, Victoza):
    • Aprovada para obesidade (Saxenda) e diabetes (Victoza), com aplicação diária. Promove perda de peso média de 6,8%, menos eficaz que semaglutida e tirzepatida.
    • A patente expirou, e genéricos podem ser liberados em 2025, reduzindo custos e aumentando o acesso. A Anvisa exige aprovação especial para genéricos devido à complexidade de fabricação.
    • Já é usada em alguns programas públicos (ex.: Iede-RJ, Goiás, DF), mas não no SUS nacionalmente.
  • Novas moléculas em desenvolvimento:
    • Cagrisema e Amicretina (Novo Nordisk): Combinam GLP-1 com outros hormônios, com testes mostrando perdas de peso superiores a 25%. Ainda em fases iniciais.
    • Orforglipron (Eli Lilly): Comprimido oral que combina GLP-1, GIP e glucagon, eliminando injeções. Em testes, mostra perdas de peso acima de 25%.
    • Survodutide: Agonista de GLP-1 e glucagon, com redução de 15-20% em fase 2.
    • Retatrutida: Citada em posts no X, combina GLP-1, GIP e glucagon, com resultados preliminares superiores à semaglutida, mas ainda não aprovada.
  • Versões orais:
    • Medicamentos como Rybelsus (semaglutida oral) e orforglipron estão em estudo para obesidade, mas enfrentam desafios como menor eficácia, necessidade de jejum para administração e maior risco de efeitos colaterais.

5. Considerações Gerais e Alertas

  • Riscos de medicamentos manipulados:
    • Sociedades médicas (SBEM, SBD, Abeso) e a Anvisa alertam contra o uso de semaglutida e tirzepatida manipuladas ou de origem duvidosa, devido a riscos de doses incorretas, contaminações e falta de esterilidade. A FDA relatou problemas graves com versões manipuladas, como infecções.
    • Apenas medicamentos aprovados, fabricados industrialmente e vendidos em farmácias com nota fiscal devem ser usados.
  • Acesso e desigualdade:
    • O alto custo dos medicamentos (R$ 700 a R$ 1.000/mês para semaglutida, ainda mais para tirzepatida importada) limita o acesso, especialmente para a população dependente do SUS.
    • Programas como o do Rio de Janeiro (previsto para 2026) planejam oferecer semaglutida e liraglutida, mas a incorporação no SUS nacional enfrenta barreiras burocráticas e financeiras.
  • Uso inadequado:
    • A popularidade de medicamentos como Ozempic para fins estéticos levou a uma alta demanda, causando escassez para pacientes com diabetes ou obesidade grave. A Anvisa discute incluir esses fármacos na mesma categoria dos antibióticos, exigindo retenção de receita com identificação do comprador.
    • Posts no X reforçam que culpar pacientes pelo uso desses medicamentos é inadequado, já que eles reduzem riscos de mortalidade e melhoram a saúde geral.
  • Importância do acompanhamento:
    • Esses medicamentos devem ser usados com dieta hipocalórica, exercícios físicos e acompanhamento médico (endocrinologista, nutricionista). A interrupção pode levar à recuperação do peso, especialmente sem mudanças no estilo de vida.
    • Exercícios resistidos são essenciais para preservar massa muscular durante a perda de peso.

6. Perspectivas para 2025

  • A chegada do Zepbound (tirzepatida para obesidade) e a possível aprovação de genéricos de liraglutida podem ampliar o acesso, mas os custos continuarão sendo uma barreira.
  • O MariTide, com dosagem mensal, promete maior conveniência, mas sua disponibilidade está distante.
  • Novas moléculas (como retatrutida, cagrisema e orforglipron) indicam uma revolução no tratamento da obesidade, com perdas de peso maiores e opções orais, mas a maioria ainda está em fases de teste.
  • A Anvisa deve intensificar a fiscalização de medicamentos manipulados e o controle de vendas para evitar uso inadequado.

Dr. Roberto Franco do Amaral – Especialista em Medicina Laboratorial CRM 111310

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